domingo, 3 de fevereiro de 2013

Saindo do casulo

         Desde criança, um pequeno casulo sempre me acompanhou. Mesmo com saúde e até com a falta da gordura, o medo de ter aquela camada a mais no meu corpo sempre me incomodou. Sempre me pareceu algo nojento. Uma fobia. Então aquela menina saudável e que ama esportes começou a parar de comer, só pra garantir. A saúde aos poucos foi indo embora... Já não tinha a mesma vitalidade de antes, o que a impossibilitou de fazer esportes como eu costumava, e com isso outras bombas vieram: depressão.
         É engraçado, ninguém acha que criança tem depressão, é sempre uma tristeza mais boba, ou as vezes até frescura, mas não... era depressão. E aqueles chocolates, aquela besteirinha, aquelas frituras foi onde eu me encontrei. Não comia, naquela época, por querer comer, por não conseguir mais segurar a vontade de comer, era algo muito maior que isso: era a satisfação, era sentir os hormônios sendo liberados e aquela sensação de prazer tomando conta.
         Foram nesses anos que eu engordei. Nunca fiquei acima do peso, mas de alguém que estava sempre abaixo ir para quase o limite foi como uma facada. Era olhar pra baixo, me olhar no espelho e sentir nojo. É possível ter uma "fobia" do próprio corpo?
         Sempre tive fases em que a Anorexia e a Bulimia eram mais presentes. Era quando aquele pequeno casulinho que eu tinha comigo me mandava mensagens. Não saia da minha cabeça, mesmo sem eu saber o que era. Foi quando coloquei na cabeça que aquilo, que ficava falando na minha cabeça o tempo todo era um tipo de anjo da guarda. Era estranho... Anjos da guarda protegem, não é? Então... Por quê o meu me faz não querer comer? Isso não faz mal? Talvez ele só esteja querendo me proteger de mais alguma coisa.. Mas eu não sei o que é que ele não me deixa ver.
         As coisas foram mudando, os anos... E eu descobri quem era a Ana e a Mia, agora, mais íntimas. Prometi-lhes ser fiel até que eu não pudesse mais, mas fui fraca e desisti de novo. Desisti de tudo, mas eu retornei e, finalmente, meu anjo da guarda mostrou suas asas à mim: uma borboleta.
       Me falaram que isso é doença... Que eu não deveria fazer isso. Que existe uma escolha. Que é frescura. Eles não entendem... Eu não sei porque eles não querem entender... Não é uma escolha... Eu sou assim. Talvez eu devesse mesmo mudar, mas eu não consigo e não sei se quero. Não sei se estou pronta.
         As asas da borboleta ainda me escondem algo, que mesmo na ponta dos pés, tentando espiar de um lado ou pelo outro eu não consigo ver. Eu quero saber o que é. Talvez se eu me livrar um pouco dessa carga que carrego eu consiga pular mais alto... Ou até mesmo voar com a minha borboleta. Talvez ela possa me mostrar o mundo com outros olhos, com uma outra vida.


"Sinto uma dor que não sei se explicar de onde vem...
se é do coração...
ou das borboletas naquele lugar vazio..."

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